«Numa cidade onde o cinema se entrincheirou em meia dúzia de salas, a vantagem para o Porto da criação de um pólo da Cinemateca Portuguesa, ou seja lá o que lhe queiram chamar, não se esgota na evidente riqueza da sua oferta cinematográfica. O modelo de um pólo da Cinemateca dividida por três outros pólos, independentemente do que se possa dizer sobre a opção, tem, pelo menos, a virtude de definir uma finalidade para edifícios que mereciam ser tratados de outro modo e aos quais deveria ser atribuída uma utilidade pública, pois foi para isso que foram concebidos.
A premiada Casa das Artes e a Casa do Cinema Manuel de Oliveira são dois dos edifícios da cidade que melhor representam o que se convencionou chamar de Escola do Porto. As duas obras da autoria de Eduardo Souto Moura, ainda que por razões diferentes, permanecem de portas fechadas. A Casa das Artes continua estupidamente inactiva e a Casa do Cinema, por razões que nunca foram suficientemente esclarecidas, nunca chegou sequer a ter qualquer actividade regular. Acresce que ambas precisam de obras e que a segunda ostenta já alguns sinais de degradação.
Nenhuma cidade decente pode pactuar com o esvaziamento a que têm sido condenadas nos últimos anos. E se tivermos em conta que o terceiro vértice deste pólo da Cinemateca é o Museu de Serralves, de Siza Vieira, não é difícil imaginar todas as potenciais relações que podem ser exploradas entre o cinema e a arquitectura do Porto.
Em qualquer cidade que se preze, estas três obras fariam parte de um roteiro de arquitectura moderna. Mesmo que o Porto não seja Chicago, que teve a sua escola antes de todas as outras, a abertura ou reabertura daquelas duas obras é um bom álibi para que a cidade repare no que tem de melhor e deixe, por um momento, os lugares-comuns de sempre.»
in Público
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