4.12.09

Grande Porto: Cinemateca no Porto avança em 2010

Miguel Ângelo Pinto 4.12.09

Pedro Mexia não gosta da palavra pólo. Pelo menos neste caso. “Na minha opinião é um termo que dá uma ideia errada do projecto”, sustenta em declarações ao GRANDE PORTO o director interino da Cinemateca Portuguesa, para quem é “muito mais interessar considerar que estamos efectivamente a instalar uma Cinemateca no Porto”.

Por isso, descentralização não será um termo correcto para se aplicar neste cenário. Para Pedro Mexia, o que está em causa com este projecto “não é descentralizar, tão pouco criar uma delegação da Cinemateca no Porto”, preferindo pensar que se está a dotar a Invicta com “uma instituição que só fará sentido com uma programação própria, pensada para os cinéfilos portuenses”. No entender de Pedro Mexia, “seria absurdo que uma reivindicação antiga como esta redundasse numa programação feita em Lisboa e replicada no Porto”, mostrando-se ainda confiante de que é desta que a Cinemateca no Porto avança de vez. “Estamos a falar de uma intenção anunciada pelo anterior ministro e reiterada pela actual titular da pasta da Cultura”, lembrando, a propósito, que este processo está em marcha, até porque as instalações previstas, na Casa das Artes, já foram visitadas pelos responsáveis da Cinemateca, estão prontas e adequadas para o fim a que se destinam.

Aquele que parece ter sido o empurrão definitivo para a instalação da Cinemateca na Invicta foi dado pela ministra da Cultura, à margem de um concerto na Casa da Música, que pretende abrir o espaço já no próximo ano, naquela que será, adiantou, uma das primeiras que vai tomar em 2010. À semelhança de Pedro Mexia, também Gabriela Canavilhas recusa que este projecto obedeça a uma mera estratégia de descentralização. “Não considero uma descentralização, porque não considero que o Porto seja uma província. É ele próprio um centro”, adiantou a governante.

Núcleo museológico

Para lá da exibição cinematográfica, a Cinemateca tem também uma dimensão museológica, da qual fazem parte máquinas, fotografias, cartazes, filmes, enfim, uma panóplia de objectos que acabam por ser um testemunho da evolução da sétima arte, seja na sua vertente técnica, seja na abordagem artística. E como é do Porto o mais velho realizador de cinema do mundo, Manoel de Oliveira, esta pode ser uma oportunidade de ouro para preservar um património que merece estar ao alcance de todos. Para Pedro Mexia, “faz todo o sentido” que o espólio de Manoel de Oliveira fique na Cinemateca do Porto, considerando que poderá tratar-se da “jóia da coroa da vertente museológica”. A mesma ideia tem a ministra da Cultura, que já anunciou a intenção de desenvolver negociações com o cineasta e a Câmara do Porto para que seja depositado na Casa das Artes um acervo que, inicialmente, tinha como destino a agora tristemente famosa Casa do Cinema Manoel de Oliveira. É que no entender de Gabriela Canavilhas, Oliveira “não é um cineasta do Porto, é um cineasta de Portugal e, nesse sentido, gostava que estivesse numa instituição de carácter nacional”.

Alargar a vertente museológica também não deverá ser tarefa hercúlea. Afinal, foi no Porto que «nasceu» o cinema em Portugal, designadamente com Aurélio Paz dos Reis. Também é verdade que já não existem salas de cinema no Porto, se descontarmos um multiplex num shopping. Mas isso agora são contas de outro rosário.

Casa do Cinema Manoel de Oliveira continua num impasse

A Fundação de Serralves está empenhada na negociação destinada a pôr a Casa do Cinema Manoel de Oliveira (CCMO) ao serviço da cultura. As negociações continuam, mas o projecto pressupõe a convergência entre várias entidades, em primeiro lugar o realizador e a sua família, a Câmara do Porto, proprietária do espaço, e o Ministério da Cultura. Gomes de Pinho, presidente da Fundação de Serralves, reafirmou que a instituição “tudo fará” para que a CCMO possa ser restituída à comunidade. “A nossa atitude é a de dar todo o apoio, pondo a nossa experiência, o nosso saber de carácter museológico, ao serviço do conhecimento da obra de Manoel de Oliveira. Temos que encontrar uma boa solução para que esse projecto se desenvolva de forma eficiente, devemos-lhe isso”. Projectada ainda no tempo de Fernando Gomes, e desenhada pelo arquitecto Souto Moura, a CCMO ficou desde o início envolta em polémica, com o cineasta a apontar como falha a falta de uma sala de projecção.

in Semanário Grande Porto

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